GORAKHPUR, ÍNDIA (FOLHAPRESS) – Um deputado indiano acusado de estuprar e filmar dezenas de mulheres deve se reeleger, segundo pesquisas de boca de urna. Até na Índia, país acostumado com notícias de políticos enrolados na Justiça, o caso do parlamentar Prajwal Revanna, 33, é visto como um escândalo sem precedentes.
O ex-motorista de Revanna vazou um pen drive contendo 1280 vídeos sexuais com ao menos 70 mulheres, alegadamente filmados no celular pelo próprio deputado. Nas vésperas da votação em seu estado, Karnataka, vários pen drives com as gravações foram deixados em assentos de ônibus e bancos de parques. As imagens acabaram viralizando.
Várias mulheres retratadas nos vídeos deram depoimentos em redes sociais acusando Revanna, que é neto do ex-primeiro-ministro da Índia H. D. Deve Gowda (1996-1997), de ter forçado as relações sexuais.
A polícia já indiciou Revanna em três casos de estupro e de abuso sexual -em um deles, ele é acusado de violentar sistematicamente uma ex-empregada de sua casa, que tem mais de 60 anos. Seu pai, que é deputado estadual e está preso, é acusado de manter a vítima em cárcere privado.
Em outro caso, ele e o pai são acusados de abusar sexualmente de uma empregada. E ainda assim, caso os resultados oficiais a serem divulgados em 4 de junho confirmem as pesquisas de boca de urna, o deputado deve se reeleger.
Revanna ficou 33 dias foragido na Alemanha e foi preso assim que voltou a Bangalore, na Índia, na sexta-feira (1º). Em vídeo, ele afirma que as acusações são falsas, que os vídeos são editados e que os materiais fazem parte de uma conspiração. O deputado também diz que entrou em depressão.
Depois que os vídeos sexuais começaram a circular no aplicativo de mensagens WhatsApp, algumas das vítimas relataram ao jornal indiano Indian Express que não saem mais de casa.
O deputado está suspenso de seu partido, o Janata Dal, aliado do BJP (Partido do Povo Indiano), legenda do primeiro-ministro Narendra Modi. A aliança formada pelo BJP e outros partidos, segundo pesquisas, deve obter maioria com ampla margem na Câmara Baixa, a Lok Sabha.
Segundo levantamento da Associação para Reformas Democráticas e do National Election Watch, 18 candidatos nas eleições indianas de 2024 foram indiciados por crimes contra mulheres (abuso sexual e estupro, entre outros).
Um dos candidatos, o deputado do BJP Brij Bhushan Sharan Singh, abriu mão da candidatura em favor do filho, Karan, após ser acusado de assédio sexual por atletas da Federação Indiana de Luta Livre.
Sete atletas, uma delas menor de idade, denunciaram Brij à polícia por supostamente tocar em seus seios e umbigos e exigir favores sexuais enquanto ele era presidente da federação. Há uma investigação em curso contra o deputado, que nega as acusações. Karan, que é vice-presidente da federação de Luta Livre, deve se eleger, segundo o levantamento de boca de urna.
A Índia registrou inúmeros casos de estupro coletivo contra mulheres, inclusive um neste ano, contra uma brasileira.
Em 2022, o Escritório Nacional de Registros Criminais da Índia contabilizou 31.516 estupros. Os números, relativamente baixos em comparação a outros países (no Brasil, foram 74.930 no mesmo ano), são enganosos. Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde da Índia, apenas 1% dos casos de estupro são reportados à polícia por causa do estigma social e da abordagem policial.
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