SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Militares de Israel invadiram nesta quinta-feira (15) o hospital Nasser, o maior ainda em funcionamento na Faixa de Gaza, localizado em Khan Yunis, no qual milhares de palestinos forçados a se deslocar na guerra contra o Hamas estavam abrigados. Pelo menos uma pessoa morreu e várias outras ficaram feridas durante a ação, segundo o Ministério da Saúde local.
Ashraf al-Qudra, porta-voz do Ministério da Saúde, afirmou em comunicado que os militares israelenses demoliram um muro do complexo hospitalar e começaram a invadir o local. Em uma segunda declaração, ele disse que os soldados foram ao departamento de ortopedia, onde um paciente teria sido morto.
A agência de notícias palestina Wafa disse que o hospital Nasser estava sob um “cerco militar rigoroso” havia 25 dias. Durante a madrugada, os militares israelenses teriam forçado a saída de médicos e de pacientes que ainda estavam no complexo com “bombardeios indiscriminados”.
As forças israelenses confirmaram a ação no hospital, descrevendo-a como uma “operação precisa e limitada”. Segundo autoridades de Tel Aviv, a incursão ocorre após o setor de inteligência obter “informações confiáveis” de que corpos de reféns israelenses estariam no local.
“Estamos realizando operações de resgate precisas -como fizemos no passado”, afirmaram os militares em comunicado. Os militares israelenses não apresentaram evidências sobre os corpos dos reféns que estariam no hospital, e líderes do Hamas disseram que a informação “não passa de uma mentira”.
O escritório humanitário da ONU havia divulgado na quarta (14) que o hospital Nasser estava sitiado pelas forças israelenses e que haviam sido registrados disparos de franco-atiradores contra a instalação, o que colocou em risco a vida de médicos, pacientes e de milhares de pessoas deslocadas.
Segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras, as pessoas que receberam ordens de Israel para abandonar o local tiveram de escolher entre ficar “e se tornar um alvo em potencial” ou sair “em um cenário apocalíptico” de bombardeios.
Vídeos divulgados nas redes sociais nesta quinta-feira mostram caos nos corredores escuros e tomados pela fumaça do hospital. Nas gravações é possível ouvir gritos e o som de tiros. As imagens não puderam ser verificadas de forma independente.
A invasão ao hospital ocorre em um momento em que Israel enfrenta pressão internacional crescente para demonstrar moderação em sua guerra na Faixa de Gaza. Os pedidos pelo estabelecimento de um novo cessar-fogo aumentaram após Tel Aviv indicar que pretende expandir suas ofensivas contra a cidade de Rafah, mais o sul, onde cerca de metade dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza estão abrigados.
As ofensivas contra instalações médicas em Gaza vêm causando preocupação durante todo o conflito. Nos quatro meses de guerra ocorreram invasões a hospitais em outras cidades do território palestino, bombardeios nas proximidades das unidades médicas, além de ataques contra ambulâncias.
Em ação de grande repercussão no mês passado, militares israelenses se disfarçaram de médicos e pacientes, invadiram um hospital na Cisjordânia ocupada e mataram três palestinos, um dos quais estaria armado. Os mortos eram integrantes do Hamas e do Jihad Islâmico.
Como bombardeios maciços destruíram áreas residenciais e forçaram palestinos a deixar suas casas, os hospitais -em tese locais mais seguros na guerra- passaram a receber milhares de desabrigados no conflito.
Instalações, veículos e pessoal médico são protegidos por lei nas situações de conflito armado. Essa proteção está contida na primeira Convenção de Genebra -pioneira norma jurídica de valor universal adotada para regular as guerras no mundo.
De acordo com a convenção, não há impeditivo legal para que ambulâncias e hospitais de Gaza ou na Cisjordânia estejam atendendo e transportando membros do Hamas. A norma determina ainda que os locais médicos não podem ser alvos no caso de prestarem assistência a integrantes de organizações terroristas. Organizações dizem, portanto, que as invasões dos hospitais podem configurar crime de guerra.
Há, no entanto, uma exceção: se um dos lados da guerra fizer uso dessa proteção para cometer um “ato prejudicial ao inimigo”, o veto pode ser suspenso. Portar armas leves de uso pessoal como pistolas e fuzis dentro de hospitais e de ambulâncias não é o suficiente para caracterizar um “ato prejudicial ao inimigo”, mas usar um hospital para lançar ataques com foguetes ou usar ambulâncias para transportar armas e munições às linhas de frente, sim. Se isso acontecer, a proteção legal perde efeito.
Israel acusa o Hamas de usar hospitais, ambulâncias e outras instalações médicas para fins militares -o que a facção terrorista nega. As autoridades chegaram a divulgar imagens feitas por suas tropas de túneis construídos pelo grupo terrorista abaixo de hospitais na Faixa de Gaza.
Cerca de 130 pessoas sequestradas em 7 de outubro ainda estariam em poder do Hamas no território palestino, sendo uma delas o brasileiro Michel Nisenbaum. Na semana passada, o Exército israelense libertou dois reféns mantidos em cativeiro após conduzir ataques em Rafah, na fronteira com o Egito.
Desde o começo da guerra, 28.663 pessoas, a maioria civis, morreram em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas. Quase 70 mil ficaram feridas no território durante o conflito.
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