O caso Gisèle Pelicot, que abalou a França, envolve mais de 50 réus acusados de participarem de um esquema de estupros coordenado por Dominique Pelicot, marido da vítima, que dopava sua esposa para que estranhos abusassem dela durante quase uma década. Entre os acusados está um militar que, aos 21 anos, teria estuprado Gisèle duas vezes. Agora, aos 26, ele confessa sua participação no crime, inclusive no dia do nascimento de sua própria filha, em novembro de 2019. Um terceiro encontro teria sido planejado, mas foi cancelado.
Outro envolvido, um homem de 37 anos, afirmou não ter ciência de que Gisèle estava dopada quando teve relações com ela. Ele conta que foi abordado por Dominique em um bar na véspera do Ano Novo de 2018, sob o pretexto de uma prática de “swing”. O marido teria proposto: “Minha esposa gostou de você, quer dormir com ela enquanto eu assisto?” O réu aceitou, alegando que não tinha nada melhor para fazer naquela noite, após uma briga familiar motivada por seu vício em álcool e drogas.
Apesar de alegar ignorância sobre o estado da vítima, ele confessou nunca ter recebido consentimento de Gisèle. “Eu achava que tudo era uma encenação”, disse, revelando que acreditava se tratar de um acordo entre o casal.
Outro réu, Lionel R., de 44 anos, declarou-se culpado e pediu desculpas diretamente à vítima no tribunal. “Nunca tive a intenção de cometer estupro, mas, ao nunca ter obtido o consentimento de Madame Pelicot, reconheço os fatos”, afirmou. Casado e pai de três filhos, Lionel pediu perdão a Gisèle, que não reagiu à declaração.
O julgamento, que começou no início de setembro, vem gerando grande repercussão na França, principalmente por conta da decisão de Gisèle de manter as portas do tribunal abertas. Ela se tornou um símbolo da luta contra a violência sexual e a prática de submissão química. No tribunal, a vítima desabafou sobre o sentimento de humilhação que enfrentou ao ser acusada de cumplicidade no crime. “Nunca consenti com nada disso”, declarou.
Dominique Pelicot, de 71 anos, finalmente se pronunciou após mais de uma semana afastado do tribunal por problemas de saúde. Ele admitiu ser “um estuprador” e reconheceu que sua esposa “não merecia” o que sofreu. Pelicot confessou que recrutava estranhos online para abusarem de Gisèle e que utilizou medicamentos para dopá-la ao longo de quase uma década. “Sou um estuprador, como todos os outros nesta sala”, afirmou, referindo-se aos 50 co-réus, que podem pegar até 20 anos de prisão.
O caso também trouxe à tona o debate sobre consentimento e a prática de submissão química na França. Durante o processo, foi revelado que Pelicot comprou 450 pílulas para dormir em apenas um ano, utilizadas para dopar a esposa. A indignação pública tomou as ruas, com 10 mil manifestantes gritando “somos todos Gisèle”, em apoio à vítima.
A decisão final do julgamento está sendo aguardada com grande expectativa, já que o depoimento de Dominique Pelicot é considerado crucial para o destino dos outros acusados.
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Entre os acusados está um militar que, aos 21 anos, teria estuprado Gisèle duas vezes. Agora, aos 26… Read More Mundo