SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ex-técnico de um time de futebol americano de ensino médio, veterano da Guarda Nacional dos Estados Unidos e governador de Minnesota. Com essas credenciais, o político Tim Walz desbancou outros cotados pelos democratas para compor a chapa de Kamala Harris e foi o nomeado pelo partido para ser vice com a candidata à Presidência nas eleições de novembro.
“Estou orgulhosa de anunciar que convidei Tim Walz para ser meu companheiro de chapa. Como governador, treinador, professor e veterano, ele ajudou famílias trabalhadoras como a dele”, afirmou Kamala nas redes sociais. “É a honra da minha vida juntar-me a Kamala Harris nesta campanha”, respondeu o político.
A escolha não era óbvia. De acordo com uma pesquisa divulgada em agosto pelo instituto Marist Poll, pela rádio NPR e pela emissora PBS, 71% dizem não ter certeza se ouviram falar sobre Walz ou afirmam que não o conhecem -entre os democratas, a proporção é de seis em cada dez eleitores.
Além disso, Minnesota está longe de ser um campo de batalha decisivo para as eleições -o estado tradicionalmente vota pelos democratas há décadas. Sua imagem, no entanto, representa um dos principais grupos em disputa no pleito -a população branca do meio-oeste dos EUA, como ele. Foi esse grupo, aliás, que também motivou a escolha do vice de Donald Trump, J.D. Vance, um senador por Ohio.
Os 12 anos de Walz no Congresso, entre 2007 e 2019, refletem sua ligação com esse eleitorado. No Legislativo, o político demonstrou uma inclinação moderada ao defender os interesses agrícolas, os veteranos de guerra americanos e até mesmo o direito a posse e porte de armas. Nesse período, ele chegou a estar entre os deputados mais bem avaliados pela NRA, o principal lobby pró-armas dos EUA.
Até hoje ele se apresenta como um orgulhoso caçador, mas revisitou algumas ideias. “Sou veterano, caçador e proprietário de armas. Mas também sou pai. E por muitos anos fui professor. Eu sei que a segurança básica com armas não é uma ameaça aos meus direitos. É sobre manter nossas crianças seguras”, afirmou ele no X no final de julho.
Ele teria sido convencido a mudar de posição por sua filha, então com 17 anos, após o ataque a uma escola na Flórida em 2018. Desde então, ele defende regras mais rígidas, como verificação universal de antecedentes e proibição de comercialização de armas semelhantes às usadas por militares.
Mas sua figura também tem o potencial de agradar democratas mais à esquerda. À frente do Executivo em Minnesota, o político implementou, por exemplo, refeições gratuitas para alunos de escolas públicas, expandiu o acesso ao Medicaid (acesso a saúde), facilitou a sindicalização de trabalhadores e garantiu o direito ao aborto no estado.
Seu principal feito até aqui, no entanto, foi ter conseguido acertar o tom contra os adversários do Partido Republicano dizendo simplesmente que eles são “esquisitos”.
“Eles querem tirar livros, querem estar com você na sala de exame”, disse ele na ocasião, em referência à censura de livros e restrição dos direitos reprodutivos das mulheres, medidas que republicanos têm apoiado nos últimos anos.
A alcunha, muito mais fácil de comunicar do que a abstrata ideia de uma ameaça à democracia que Kamala tenta pregar no candidato republicano, viralizou.
Ele também tenta arranhar a imagem de Trump e Vance como defensores da classe média -algo que pode reivindicar para si. “Eles continuam falando sobre a classe média. Um magnata ladrão do setor imobiliário e um capitalista de risco tentando nos dizer que entendem quem somos? Eles não sabem quem somos”, disse Walz em uma entrevista à MSNBC.
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